quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Dia 6: Uma foto que te dá saudade

Xengas



Provavelmente quem vai entender esse desabafo é quem teve ou tem um cachorro.

Outros não vão entender ou no mínimo vão fazer chacotas, mas se Jesus, perfeito em tudo não agradou a todos, o que dirão de mim? A mais complicada filha de Deus.



Sempre amei e tive apego aos bichos. Tanto que a profissão que queria exercer era medicina veterinária, país a se conhecer África do Sul com suas reservas florestais, filme favorito "O Rei Leão", estampas de roupas....onças, zebras, vacas e afins. Meu pai não me deixava ter cachorro, então minha mãe tinha que improvisar. Me arrumava pintinho (esse no qual eu amarrava barbante na patinha e puxava como se fosse cachorro), patinho, já tive um aquário cheio de peixes, mas não dava para brincar com eles, pegar no colo. Que tristeza! Confesso que sou meio Felícia, gosto de ter bichos para apertar. Já tive também porquinhos-da-Índia que se multiplicaram de maneira assustadora. Eu pegava muito neles e começou aparecer uma alergia em mim, então minha mãe aproveitou minha ida a casa de uma tia e vendeu tudo para uma casa de Ruralista. Fiquei arrasada.



Os anos iam se passando e o que eu queria era um cachorro!






Já estava com 14 anos, participando da banda da prefeitura de Ipatinga. Tinha diversos amigos, e cito uma em especial que mudaria minha vida - Suene.



Suene estudava trompete enquanto eu estudava o clarinete, fazíamos parte dos "estagiários" ou "iniciantes, nossa turminha era muito animada....como sempre digo: "Adolescente é outra vibe.".



Suene tinha um casal de cachorros que agora me falha a memória o nome deles. E a fêmea ficou prenha. Ela me ofereceu um filhote e como eu faria 15 anos, achei que era uma ótima data para se barganhar, ou chantagens por um super presente, já que na época estávamos construindo e festa estava fora de questão.



Pensei: "Por que não?"



Falei que queria uma fêmea e deixei "o pau quebrar".




A história do nascimento!



Passaram-se os pouquíssimos meses de gestação de uma cadela e enfim nasceram os filhotes. Cinco ao todo. Quatro machos e uma fêmea. Dois machos morreram. A fêmea era a mais forte e mais gulosa de todos e ela tinha nascido com uma diferença, o rabo tinha um tipo de gancho na ponta. Bom essa cachorrinha nasceu para ser minha não acham?




A escolha do nome!



Sempre falo que se você quer viver uma vida intensamente, você tem que ter estudado numa escola estadual e tocado em uma banda.

Na banda criam-se músicas, apelidos, vinhetas, falsos casais, casais reais, chifres reais, chifres falsos, come-se salgado com gosto duvidoso e chup-chup sabor água. Enfrentamos fila no final do dia para pegar nosso vale-transporte, esperamos o final do ano por uma confraternização. Nessas brincadeiras, de criar apelidos, uma vez fiz luzes no cabelo e me apelidáramos e vó. Até hoje encontro alguém da banda que insiste em me chamar de vó. Tem muita gente que não entende e eu não perco tempo explicando mais. E tinha uma menina chamada Xênia, que o apelido era Xengas....vocês conhecessem a música do sapo não lava o pé? Imagina cantado com o seu apelido? Trocando quase todas as palavras pelo seu apelido, dando uma conotação um tanto maliciosa ....


"A Vó não lava a Vó, não lava porque não Vó

Ela mora lá na Vó não lava a Vó porque não Vó."


Agora tente com seu apelido....




"O(A).......... Não lava o(a).............., não lava porque não.........

Ele(a) mora lá no(a) ..........não lava o(a) ...........porque não.........."


Engraçado né?



Agora se imagina com 14 anos, numa banda dentro de uma ônibus cantando com o apelido da minha amiga Xênia........ Virou hit de sucesso (pelo menos na minha cabeça).



Bom a cadeirinha já tinha um nome. Nada de clichês como Lalá, Xuxa, Sasha, .....Xengas....um nome super original, carregado de história. E, é claro, só os fortes entenderiam.



Agora só faltava meu pai aceitar ela em casa.




Recebendo a Xengas em casa!



Já estava desmamando, já havia tomado as primeira vacinas, já havia roubado leite das tetas da mãe no lugar dos irmãos. Agora estava na hora de levar ela para casa.

Primeiramente, lógico, cheguei na minha mãe. Mãe é outro nível!


"Eu sempre quis ter um cachorro! Falei que queria se fosse uma fêmea e foi a única que nasceu. Você não acha muita coincidência? Ela nasceu para ser minha minha.". O fato engraçado dessa história é que essa última frase nos acompanhou sempre.



Minha mãe falou que meu pai não queria e que era muita responsabilidade e coisa e tal e que se eu quisesse (já deixando) eu teria que me virar para resolver tudo sozinha.



Suene morava no bairro Esperança. Eu morava no Ideal. É perto, mas se fosse hoje, iria de carro. Não podia contar com a ajuda dos meus pais para buscar uma "coisa" que eles não queriam. Teria que fazer tudo "all by myself".



A Xengas era a coisa mais gostosa dessa mundo. Uma bolinha de pelo. Penso que meu coração nunca bateu tão forte assim por um presente antes. Eu sentia que muita coisa ia mudar na minha vida. E se Deus, realmente me permitisse ter essa cadeirinha que eu tanto queria, tinha também um bom motivo para tal.



Fui de bicicleta para lá. Uma bicicleta sem cestinha. Antes tivesse ido a pé. Tive que voltar empurrando a bicicleta e na outra mão uma bola de pêlo. Mas não fiquei triste por isso. Minha adrenalina, libido e tudo quanto é tipo de hormônio que trás bem estar estavam no auge dentro de mim.



Cheguei um pouco assustada em casa e apresentei a Xengas para todos. Como previsto, ninguém deu idéia pra ela. Meu pai disse: "Quer ter cachorro? Tudo bem! Mas não quero esse bicho perto de mim!".



Mas Deus trabalha! E como!



Na primeira noite ela chorou muito, mesmo estando numa caixinha debaixo da minha cama. Eu fiquei morrendo de medo dos meus pais perderem a paciência e me forçassem a devolvê-la. Então eu brigava com ela. "Fica quieta" eu dizia, e depois passava a mão nela e nisso foi toda a primeira noite.



Na segunda noite, usei estratégias. Minha mãe não queria que ela dormisse no meu quarto então coloquei ela no banheiro, com um ursinho de pelúcia e uma caixinha de som ligada numa rádio para fazer barulho a noite e ela não se sentir sozinha......resultado....estratégia 0 - Xengas 1.






Fiquei com mais medo ainda, duas noites com cachorro chorando? Ia acontecer algo ruim. Lógico que pedi a Deus para me ajudar nessa situação. Peço ajuda pra tudo!



E finalmente na terceira noite ela dormiu sossegada e acostumou com nossa casa. Tinha assumido agora como seu novo lar. Mas ainda era cedo demais. Filhotes tem necessidades especiais, assim como um bebê. Alimentação especial, ensinamentos, vacinação...e aí começaram meus gastos! Uma vida passou a depender de mim. Eu era mãe aos 14 anos e estava bem com isso.



Os dias iam passando e minha bolinha de pêlo não precisava ser muito ensinada pois ela tinha sangue azul, sua mãe era uma cadela muito educada e essa educação, certamente veio em seu gene. Sempre foi muito asseada, não era de subir em camas e sofás, não gostava de lamber. Era bem na dela! Muito esperta. Sabia conquistar as pessoas e tinha muita paciência para isso.




Quando meu pai estava em algum lugar ela sempre ia para ficar perto dele, e no início para demonstrar publicamente que não gostava da ideia de ter cachorro em casa, ele saia do ambiente que ela estava. Mas ela não se cansava de tentar, até que o conquistou, e o conquistou bem conquistado.



Já tínhamos o piano há alguns anos, fazia parte da nossa cultura familiar ensaiar, estudar, praticar música. E ela sempre demonstrou muito interesse nisso. Ela adorava ficar, principalmente perto do piano. Costumo dizer que, dos compositores clássicos, ela tinha especial interesse em Bach.






Ainda no início tivemos alguns contratempos como chinelos mordidos, devido a insatisfação de ficar sozinha em casa, dia de domingo quando íamos a igreja. Mas a todos que querem ter cachorro um dia, fica a dica, essa fase passa. O metabolismo deles é muito mais rápido que o nosso, mais precisamente 7 vezes mais. Com um ano o cachorro troca a dentição e esta apto para cruzar. Com um ano ele já se torna adulto.

Os anos de passaram, mudamos para a casa nova e nossa vida ia seguindo o curso. 

Comecei a faculdade. Na época estava trabalhando num escritório no horto. Saía cedo e chegava tarde, pois ia do serviço direto para a faculdade, que era em Timóteo. Quando saía de casa o povo tava dormindo e quando chegava....o povo estava dormindo. Apenas a Xengas me esperava acordada!

Cachorro é tudo de bom!!!!

Quando meu sobrinho nasceu, a Xenguinhas já estava com 8 anos. Uma moça! O Arturzinho cresceu com ela. Brigando e brincando. Sempre digo a mesma coisa. Casa, lar tem que ter cachorro ou criança, se tiver os dois, melhor ainda!!!!





Pena que o metabolismo dos nossos animaizinhos são mais rápidos que os nossos. Bom quem tem tartaruga em casa é outra coisa. Mas minha cadelinha estava envelhecendo. Já não subia as escadas sozinha. Ela sempre latia para alguém buscar ela no colo. Pois ela sempre dormiu no quarto dos meus pais. ela escolheu aquele quarto como o dela. E penso eu que, foi para meu pai "pagar a língua" (risos altos). 

Lá dentro, bem no fundo, eu sabia que ela não ia viver para sempre, mas eu sempre falava....ela vai viver até os 50 anos....e quando alguém me perguntava a idade dela e eu falava: 14 anos....sempre tinha um "boca santa" para falar: "É está quase morrendo"......ó ódio! Essas pessoas poderiam aprender a ficar caladas. Na Bíblia fala que o tolo passa por sábio se ficar calado....Se você não tem palavras de edificação, não fale NADA!

A verdade eu sabia, mas para quê gritar isso para o universo ouvir? Geralmente quem falava isso era fã do Ratinho e das novelas da Globo, então temos que ter paciência com essas pessoas. 

A morte




Foi de um dia para o outro, a Xengas começou a sentir muita dor nas "juntas". Levei ao veterinário como sempre (Ela ia a cada 15 dias. Tomar banho, vacinas, exames, clareamento dos dentes...). E a veterinária dela, a Diva me preparou...me falou a verdade. Que o metabolismo deles por ser muito mais rápidos que o nosso, ela pode piorar de um dia para o outro. Mas me deu as vitaminas e remédios para a dor. 

Nesse meio tempo, ela já não se alimentava direito. Três dias antes do dia fatídico, ela começou a gemer de dor e não comia nada. Foi então que eu fiz uma coisa que nunca imaginava ser capaz de fazer. Pedi a Deus que levasse, porque eu não queria ela daquele jeito. Seria muito egoísmo da minha parte, manter ela viva, mas com dores. Nem remédio fazia mais efeito.

E Deus não a levou! Fiquei assim #xatiada.

No sábado meu pai passou a noite acordado vigiando ela, pois nessa fase já estava babando. No domingo pedimos a Diva para ir buscá-la e colocá-la para "dormir". Antes que a veterinária chegasse eu peguei ela no colo pela última vez e passei com ela pela casa. ela gemia muito de dor, mas quando entrei no quarto que ela dormia, ela ficou caladinha...foi um momento mágico. E fiz com que ela se despedisse de todos os cômodos da casa. Assim que desci, permaneci com ela no colo, pois no meu colo ela não chorava. Poucos momentos depois a veterinária chegou e a levou. Ela voltaria mais tarde para entregar a Xengas para ser enterrada.

Nesse período meu irmão cavou um buraco para ela ser enterrada, bem perto da gente. Mas nesse período eu já estava off. Não queria mais estar presente nesse momento. Foi muito doloroso pra mim. e sei que se alguém, conseguiu ler esse texto até o fim e não se importa com animais, talvez ache ridículo. Mas a morte dela foi para mim a última folha da minha árvore. Mas Deus sabe de todas as coisas. 

Por 14 anos eu tive uma amiga, que sempre me acompanhava nas orações. Uma amiga que permaneceu fiel.
Foi bom enquanto durou. Ainda sinto muito falta, mas sei que as coisas mudam, e precisam mudar. O velho foi embora e as coisas novas tem que vir.

Se você pensa em ter cachorro em casa, saiba que, dá trabalho, às vezes dá raiva, nos privamos de algumas coisas, gastamos demasiadamente com eles. Mas nada dá mais prazer que ter um Pet. 


Agora estou aqui tentando me adaptar com um casal de hamsters chineses. Não é a mesma coisa, mas quem sabe Deus não me abençoa com um futuro cheio de boas surpresas....eu creio. Eu tenho fé!





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